terça-feira, abril 03, 2012

Facebook Versus Oscar Wilde



Eu fui daqueles que resistiu durante algum tempo a aderir ao facebook. Em parte por alguma costela conservadora que conservo para nao ser demasiado impulsivo, mas tambem porque duvidava da utilidade de expormos a nossa vida a toda a gente, e sobretudo porque não queria ficar agarrado a mais um instrumento da sociedade virtual.

Pouco tempo depois de aderir já estava maravilhado e viciado no FB. Foi como se a velha lista de emails cinzentos de repente ganhasse vida, caras, sorrisos e energia! trocar ideias, saber noticias, comentar as fotos dos amigos e no geral senti-me mais próximo do meu mundo!
Em breve comecei a fotografar coisas porque achava giro por no facebook, difundir noticias que me interessavam, fazer politica participando em inumeros grupos, até lancei a empresa da minha família nessa rede social, para ajudar a divulgar novos produtos.

Reflectindo um pouco, acho que o que mais me ligou ao FB foi a sensação de fluidez, parece que a vida "anda mais rápido", como uma injecção contínua de adrenalina, sentida a cada actualização de estado.
Mas a vida encontra sempre formas de nos despertar para realidades que por vezes queremos ignorar.

Quando me deparei com esta notícia Joshua Bell - Washington Post, tive uma epifania.
Compreendi que existem uma série de "coisas" na nossa vida, onde se inclui o FB, que nos transformam de produtores de informação ( porque vivemos experiências e as partilhamos com outros), em reprodutores e difusores de informação. Não gostava de me tornar numa daquelas pessoas que passou pelo Joshua Bell, que tocava de forma sublime e gratuita no metropolitano, e não saber parar e apreciar aquele momento fantástico.

Assim que realizei tudo isto, decidi que algumas coisas na minha vida tinham de mudar, que tinha de me libertar de algumas rotinas e instrumentos que acabam por condicionar o pensamento livre e a criatividade.
Não precisava de o fazer, mas fi-lo porque não quero perder a capacidade de pensar "fora da caixa" e prefiro viver directamente a minha realidade, em vez de a encarar através de filtros.

Este não é um post contra o facebook, nem contra a sociedade digital, é uma afirmação de identidade individual e o reconhecimento da importância central que ela deve ter nas nossas vidas. Já Oscar Wilde dizia “Most people are other people. Their thoughts are someone else's opinions, their lives a mimicry, their passions a quotation.”.


Não partilho do pessimismo de Oscar Wilde em relação ás pessoas em geral ( nem do seu amor pelo paradoxal), mas reconheço que a visão crítica da sociedade do seu tempo se tornou intemporal.
Por isso, pela minha parte, vou buscar o meu chapéu de chuva e dar um passeio ao fim do dia.

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