sexta-feira, maio 25, 2012

Pensar como um Pai



Querido Blog,

Esta segunda feira de manhã, vinha eu no caminho habitual para o trabalho, quando, ao fazer uma curva sem visibilidade, deparo-me com umas 30 crianças de um colégio guiadas pelas auxiliares, a atravessar a rua fora da passadeira, que estava a uns 20 metros de distância.
Ora quem me conhece sabe que eu, como qualquer bom português, tenho "pé pesado", mas aconteceu que vinha devagar, e ao fazer a curva (com visibilidade zero) tive todo o tempo para travar suavemente e esperar que as crianças fizessem a travessia.
Quem me conhece também sabe que não me contive e saí do carro para abordar a senhora responsável e disse-lhe: 

João Annes -" Bom dia! Só para lhe dizer que ainda bem que não sou pai de nenhuma destas crianças, nem sei qual é o seu colégio, senão sabia bem onde ia agora antes de chegar ao trabalho"
Auxiliar -" Mas que se passa?"
João Annes - " que se passa? então é assim que ensina as crianças a passar na passadeira, é assim que garante a sua segurança? Já viu que eu não vejo nada para este lado quando faço a curva? e se eu venho mais rápido?
Auxiliar - " Ah pois, mas onde é que está a passadeira?"
João Annes - "Mesmo ali" - e aponto para o local, aos tais 20 metros de onde estávamos a falar...
Auxiliar - Ah pois tem razão, mas estava longe....

Nisto, voltei a entrar no carro e fui-me embora.

Quis a vida que eu até hoje não seja casado nem tenha filhos, mas um dia isso acontecerá.
E vou ter de continuar a trabalhar e a minha mulher também.
E vou ter de confiar os meus filhos a desconhecidos em jardins de infância, escolas primarias e afins.
E não vou nunca ter a certeza que eles estarão em segurança, que serão bem tratados.
E vou andar preocupado e atento a quaisquer sinais, e vou ser tão exigente quanto o dinheiro me permitir com as escolas onde coloco os meus filhos.
Ainda assim, estes pensamentos não ajudaram a acalmar o momento de angústia que senti por aqueles filhos dos outros.
Ainda não tenho filhos, mas naquele momento tudo o senti e pensei, foi como pai....



segunda-feira, maio 14, 2012

Sociologia dos bonecos (Parte 1)



HE-MAN



Querido Blog,
Crescer é aquela coisa que nos dizem desde pequeninos que temos fazer.
Crescer, a palavra que no dicionário parental significa "porta-te bem e faz o que te mandam, porque sim".
Crescer, aquilo que sentimos necessidade de fazer quando a vida nos diz que não estamos preparados para algo que desejamos realizar.
Em suma, nós crescemos sempre que decidimos abdicar de algo relevante a favor de algo que tem valor superior.Ontem, já com 28 anos, enquanto fazia arrumações, encontrei muitos dos brinquedos e jogos com que me divertia na minha infância, e não resisto a iniciar aqui uma "viagem ao passado", porque se os nossos brinquedos fazem parte de nós, então nós somos, em parte, os nossos brinquedos.


Grizzlor
Desde pequeno que os brinquedos me ensinaram que havia os bons e os maus. Lembro-me que adorava correr pela casa atrás da minha tia Elisa, de Grizzlor em punho, a gritar como se não houvesse amanhã,  "Não me voltas a dar sopa!"
Das memórias que ainda trago desses tempos, reparo que habitualmente, quando brincava com outras pessoas, escolhia ser dos maus, com bonecos assustadores e grandes planos imaginários de conquista.
Sempre tive um fascínio, pelo "darkside", pois são as personagens mais ricas e complexas dos livros e cinema, cheios de contradições e, talvez por isso, despertem em nós uma identificação emocional mais primária.
Só havia um tipo de herói que me interessava, o justiceiro anti-herói, aquele que não combate para conquistar o poder, mas sim para defender outros, acabando por superar os seus inimigos, sem por em causa os seus valores morais.
O HE-MAN era a personificação do meu estilo de herói infantil: um tipo com super poderes, defensor do povo de Eternia, o único capaz de derrotar o temível Skeleton, contando com a preciosa ajuda de uma espada invencível que não podia utilizar para matar!
Claro que eu usava sempre o machado, para poder dar "cabo dos maus" sem problemas de consciência.
Nunca fui muito de brincar com carrinhos, e legos só para fazer robôs do espaço em batalhas épicas debaixo da mesa de jantar, ou viver com os bonecos dos piratas lego.Pelo contrário, o amor pelo fantástico e o gosto por jogos de guerra fazem parte de mim desde tenra idade....
Brincar faz muita falta ás crianças, e eu ainda fui da geração dos brinquedos "físicos", antes dos jogos de vídeo, de jogar á bola na rua em vez de ficar a ver televisão.
Tudo farei para que os meus filhos possam um dia crescer a jogar á bola, andar de bicicleta, brincar com monstros, carros, bonecas, remetendo os divertimentos sedentários para segundo plano.